Nascida em Santa Rita do Paranaíba em 1843, Dona Francisca comandou a casa de políticos ricos e poderosos de Goiás até 1909
História das mulheres em Itumbiara

Francisca Carolina de Nazareth Moraes nasceu em Santa Rita do Paranaíba no dia 24/11/1843. Filha do fazendeiro Manoel Martins Marquez, que faleceu em 1886 e de Hipóllita Maria de Nazareth, falecida no final da década de 1850. Viveu sua adolescência no pequeno arraial no sul de Goiás, local onde grande parte da população morava na zona rural. Constituiu a primeira família com Alcebíades José da Silveira no início da década de 1860, com intensa participação católica: costumava levar os filhos para participar dos eventos religiosos, sendo figura constante na Paróquia de Santa Rita de Cássia, que havia sido criada em 1852 (FERREIRA e PINHEIRO, 2009).
Foi mãe de três filhos no primeiro casamento, com Alcebíades José da Silveira, sendo Maria Carolina da Silveira a primogênita, cujo nascimento se deu no então distrito de Santa Rita do Paranaíba em 30/10/1862. Aos nove anos, Maria Carolina mudou-se com a mãe para Morrinhos e anos mais tarde contraiu casamento com o sócio e caixeiro do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, major da guarda nacional Pedro Nunes da Silva em 07/02/1883, com quem teve treze filhos e tornou-se primeira dama de Morrinhos na década de 1890, tendo executado destacado trabalho social, que lhe valeu o nome de “mãe da pobreza” na região, conforme dados colhidos no Museu Municipal da cidade de Morrinhos.
Por volta de 1865, quando Dona Francisca contava com vinte e dois anos nasceu o segundo filho, com o nome de Galdino da Silveira Marquez, que após a infância voltou para Santa Rita do Paranaíba e ocupou cargos públicos, como o de Inspetor escolar e nas eleições trabalhava nas mesas eleitorais atendendo os interesses da família.
Um ano depois nasceu Anna Theodora da Silveira Amorim, que também seguiu para Morrinhos com cinco anos, em 1871, onde conheceu mais tarde Pacífico do Amorim, também sócio e caixeiro do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes. Casou-se com o futuro Intendente de Pouso Alto, hoje Piracanjuba, que exerceu naquela cidade os cargos de tabelião, delegado, juiz municipal e também intendente.
O esposo de Anna Theodora da Silveira Amorim era filho natural do professor e funcionário público da Recebedoria de Santa Rita do Paranaíba, José Fleury Alves do Amorim, irmão de Padre Félix Fleury Alves do Amorim, primeiras autoridades no então distrito de Santa Rita do Paranaíba.
Do segundo casamento, com o coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, nasceu em 1870, em Santa Rita do Paranaíba, o homônimo do pai, e depois de se mudar para Morrinhos, teve em 1873, Francisco Lopes de Moraes e encerrou o período de maternidade, então com 40 anos em 1884, ocasião em que nasceu Amélia Augusta de Moraes em 27 de agosto.
Francisca Carolina de Nazareth Moraes fugiu do padrão das mulheres da época em Goiás que se casavam muito cedo e os filhos eram em sequência e em grande número. Teve apenas três filhos no primeiro casamento e quatro no segundo. Era bem religiosa, participava das atividades comerciais, tendo inclusive fazendas em seu nome e não estudou além das primeiras letras, apesar de seus pais serem fazendeiros. Esteve sempre ao lado do esposo, o coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, ajudou a cuidar dos bens, dos filhos e dos netos e ajudou a administrar a fortuna da família. Também foi primeira- dama.
Vivendo em família tradicionalmente católica, foi batizada em Minas Gerais na cidade de Monte Alegre. Os registros relacionados ao seu primeiro casamento com Alcebíades José da Silveira marcam o nascimento e batizado de três filhos, sendo a primeira Maria Carolina em 1862, o filho Galdino Marquez em 1865 e a terceira filha em 1866 de nome Anna Theodora (FERREIRA e PINHEIRO, 2009).
Ainda nos registros de batizados da Paróquia de Santa Rita de Cássia (FERREIRA e PINHEIRO, 2009), mostra-se a presença de Francisca e seu primeiro marido Alcebíades em uma cerimônia perante o Padre Félix, irmão de José Félix do Amorim, em outubro de 1863, em um ato de reconhecimento da paternidade feito por seu sogro, José Manoel da Silveira, em relação a um menino chamado Alexandre, filho de mãe solteira. Nesta ocasião é também registrada a primeira aparição de Hermenegildo Lopes de Moraes, naquele tempo ainda solteiro e testemunha no evento, futuro marido de Francisca após a morte de Alcebíades José da Silveira (FERREIRA e PINHEIRO, 2009, p. 218).
Os vestígios nos registros de batizados e casamentos na Igreja Católica de Santa Rita do Paranaíba apontam que Francisca conhecera o coronel Hermenegildo Lopes de Moraes pelos idos de 1863, em eventos na Igreja Católica, e após o falecimento de seu primeiro esposo, casou-se com o coronel em 1869, tendo o primeiro filho Hermenegildo Lopes de Moraes nascido em 06/10/1870 em Santa Rita do Paranaíba.
Com a morte do pai Manoel Martins Marquez em 1886, herdou uma fazenda em Santa Rita do Paranaíba. No segundo casamento, teve ainda em Morrinhos os filhos Francisco Lopes de Moraes, nascido em 09/03/1873, Alfredo Lopes de Moraes em 23/11/1880 e a caçula Amélia Augusta de Moraes, nascida em 27/08/1884.
A mudança de Dona Francisca Carolina de Nazareth Moraes, de Santa Rita do Paranaíba para Morrinhos, teria se dado por motivo de saúde no início de 1871, já que o Arraial vivia uma epidemia de malária (AMORIM, 1998, p.81), fato que motivou a mudança do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, que seguiu com a esposa, o filho de um ano, Hermenegildo Lopes de Moraes, e ainda as três crianças do primeiro casamento com quatro, cinco e oito anos.
O casamento de Dona Francisca e o coronel Hermenegildo se realizou às quatro horas da tarde do dia 04 de novembro de 1869, quando se travava a Guerra do Paraguai, ele com 36 anos e com boa situação financeira adquirida nos anos em que foi administrador da Recebedoria de Santa Rita do Paranaíba, comerciante e fazendeiro na região de Santa Rita do Paranaíba até 1871 (PINHEIRO e FERREIRA, 2009, p. 219).
O coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, além do primeiro emprego público na Recebedoria de Santa Rita do Paranaíba, foi ainda Inspetor Paroquial em 1869 e 1871. O coronel teve uma atuação destacada como fornecedor de mantimentos e tropas a partir de Santa Rita do Paranaíba no início de 1865, onde se estabeleceu como comerciante e fazendeiro, fazendo fortuna com a Guerra do Paraguai entre 1865 e 1870.
O coronel Hermenegildo Lopes de Moraes era um empreendedor. O seu casamento em 1869 com Francisca Carolina de Nazareth de Moraes, filha Manoel Martins Marquez, um importante fazendeiro da região e finalmente, no ano de 1870, o nascimento de seu primeiro filho, que leva o seu nome, foram os fatos marcantes que encerraram sua passagem pelo então distrito de Santa Rita do Paranaíba.
Após mudar-se para Vila Bela de Morrinhos, que iria se emancipar, torna-se seu primeiro intendente e principal líder político. A partir de Morrinhos, aumenta em muito sua fortuna com empréstimo de dinheiro e compra de fazendas e aumento do comércio, tornando-se vice-presidente do Estado de 1895 a 1905.
Em Morrinhos foi o primeiro intendente e criou uma estrutura de poder que permitia o controle do sul de Goiás, com parentes ocupando cargos públicos no distrito de Santa Rita do Paranaíba, em Morrinhos e Piracanjuba. Costumava viajar para os estados de Minas e São Paulo e até para o exterior a passeio, conforme alguns relatos do período. Mas se caracterizava mesmo como grande fazendeiro, comerciante e capitalista do Estado de Goiás.
A morte do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes em 15 de maio de 1905, após cinco anos sofrendo doença cardíaca, pode ser considerada o marco de emancipação de Dona Francisca Carolina de Nazareth Moraes, considerando a vultosa fortuna herdada do marido, correspondente à metade de todos os bens, conforme disciplinava a Legislação no período.
Do livro de Nilson Freire - Embates e arranjos políticos em Goiás
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