Com grupos políticos divididos e enfraquecidos na terra de ninguém, Itumbiara ocupa a periferia na representação política
Opinião
A um ano de novas eleições, o quadro político local em Itumbiara mostra um espaço vazio de ideias e lideranças políticas, que colocam o município na periferia da representação nos parlamentos e governos estaduais e federal.
Depois da morte dos últimos dois grandes líderes políticos Zé Gomes e Luiz Moura, um vazio de lideranças se instalou e com ela a insignificância com que o município é tratado nos palácios dos governantes e nas representações políticas dos parlamentos.
Gerado com liderança ainda no leito da morte do seu criador político, Zé Antônio – Republicanos, não quis ouvir o grupo que o levou ao poder, tornou-se prefeito, mas se perdeu pelo caminho e hoje atua á margem com cargo na Assembleia Legislativa. Participa dos processos eleitorais nos bastidores do baixo clero. Tem uma bancada no município de Itumbiara, mas que não segue o líder.
As eleições de 2020, levaram Dione Araújo – União Progressista, para o papel de líder político da parte conservadora e de direita no município, com forte apoio empresarial e anda baixa penetração no imaginário do eleitor popular. A morte do médico e candidato a prefeito Doutor Murilo, que seria bem votado naquele ano, pode ter elevado Dione a vencer as eleições e tornar-se uma liderança política também em construção.
Com características centralizadoras, tenta construir seu próprio grupo político e vê o poder como um instrumento de força, que traz seguidores em um processo de coalização, mas que não atinge o coração do eleitor popular, que ainda pende para Gugu Nader, hoje deputado estadual pelo Avante.
Dione vê o poder político como uma extensão da relação patrão e empregado no sistema capitalista. O controle popular de seu governo se perde, pela subserviência do Poder Legislativo e por contar com poucas ideias contrárias aos seus projetos nos Conselhos municipais. Ninguém ousa contrariá-lo. Cinco anos depois de chegar ao papel de prefeito, caminha para o rompimento com parte de seu ainda pequeno grupo político, até então liderado por Álvaro Guimarães, que sacrificou uma eleição que poderia vencer, para atender aos pedidos do seu líder estadual, o governador Ronaldo Caiado – União Progressista. Recentemente foi preterido de ser o candidato do prefeito a deputado estadual nas próximas eleições por um membro do governo local e familiar, se é que genro figure assim. Pode ser que nos aspectos legais, atende, mas o eleitor observa tudo e quem quer se tornar um grande líder, ouve e observa e não usa só a força.
O Deputado Estadual Gugu Nader – Avante, tornou-se também uma liderança política nos últimos 15 anos e enfrentou também os grandes da política local, até ocupar o cargo de vice-prefeito e finalmente se tornar deputado estadual pelo Agir. Permanece no imaginário popular como amigo das pessoas pobres e entende suas necessidades mais básicas, como a alimentação e também o carinho e atenção. Mas ainda não atinge a camada dos conservadores que decidiram um dia as eleições para Zé Gomes e em 2020 para Dione Araújo. É o último degrau para um dia se tornar prefeito. Não se chega ao Palácio 12 de outubro sem as bênçãos dos empresários e de profissionais liberais como médicos, que pela proximidade do atendimento na saúde pública, tem um eleitorado fiel e decisivo nas eleições.
Na análise das características dos dois principais lideres políticos, que tem mandatos de prefeito e deputado estadual, utilizo dos conceitos de Maquiavel, para colocar de um lado o temido e do outro o amado. O pensador político naquele século distante já dizia que era preferível ser temido, porque o amor é muito volátil. Mas o bom mesmo sabe equilibrar, pois adverte: “Um governante deve ser temido para garantir respeito, mas deve evitar ser odiado, agindo com prudência e não usando a crueldade de forma desnecessária.”
Além do medo e do amor, acrescento ainda algumas características necessárias aos grandes líderes, mais pela vivência em palácios governamentais, que compartilhei com o então prefeito Zé Gomes e o deputado estadual Álvaro Guimarães, quando amigos dos governadores Marconi Perillo e Cidinho, em uma época que Itumbiara frequentava o centro do poder político em Goiás. Naqueles tempos, Zé Gomes advertia Álvaro, que sempre tinha alguns pedidos pequenos para Itumbiara: "Deputado, não vamos nos ocupar de pequenas coisas para Itumbiara, vamos pedir milhares de casas populares, saneamento básico, asfalto, fazer parte do governo estadual, enfim, colocar Itumbiara em primeiro lugar. E as lições resultaram em inúmeros benefícios para a cidade e cada visita, centenas de casas eram autorizadas para o município, que se fazia representar nos governos estaduais. A lição que ficou é não se perder em pequenas coisas na administração, pois o mandato passa ligeiro e a cidade ainda precisa de grandes obras e de resolver grandes problemas, como a gestão de resíduos sólidos.
Foi nesse meio que também era perceptível os benefícios da virtude da gratidão. Álvaro Guimarães e Zé Gomes eram atendidos em quase tudo que pediam aos governadores, que colocavam Itumbiara como prioridade. Zé Gomes não esquecia que só chegou a prefeito, porque Marconi permitiu. Se o governador usasse a força política contra Zé Gomes, ele não teria realizado o sonho de ser prefeito no centenário de Itumbiara. E grato a Zé Gomes pelos votos, Cidinho e Marconi deram tratamento reciproco a Itumbiara. Álvaro, suplente de deputado em dois mandatos, chegou ao parlamento pelo tratamento de Maguito Vilela e Marconi Perillo, esquecidos depois. Ungido novo líder e com críticas aos lideres do passado, Álvaro até hoje não se conseguiu efetivar como deputado, ao lado de quem considera sua maior liderança, que é o governador Ronaldo Caiado.
Enfim, vemos o poder como Michel Focault em sua microfísica do poder, onde forças estão atuando em redes e todas influenciam. Umas mais, outras menos, mas todas atuam. Não se governa só pela força, nem só por amor, o equilíbrio e que leva ao sucesso. E se tiver gratidão e pensar em coisas grandes para a cidade, Itumbiara pode voltar a ter importância no quadro politico e sair da periferia. Depende dos novos líderes em construção.
Nilson Freire – Advogado
Mestre em História pela PUC GO, Mestre em Ciências Jurídico-políticas pela Universidade de Coimbra. Especialista em Administração Tributária e Política pela FGV. Licenciado em História e Ciências Físicas e Biológicas, bacharel em Direito pela UFE e Administração de Empresas pela Fesit.
Ex-presidente da Saneago, ex-diretor do IPASGO, ex-secretário de finanças e saúde de Itumbiara. Auditor Fiscal aposentado, Escritor com sete livros publicados, entre eles, O casamento, arranjos e embates políticos em Goiás.
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