Entre o imaginário do paciente e os programas de governo, um novo hospital segue como prioridade para melhorar a saúde pública em Itumbiara

Opinião

Entre o imaginário do paciente e  os programas de governo, um novo hospital segue como prioridade para melhorar a saúde pública em Itumbiara
Entre o imaginário do paciente e os programas de governo, um novo hospital segue como prioridade para melhorar a saúde pública em Itumbiara (Foto: Reprodução)

Segundo dados do CNES, o município de Itumbiara conta atualmente com mais de 300 leitos hospitalares disponíveis, sendo um para atendimento regional e de responsabilidade estadual com mais de 200 leitos e outros 92 do hospital municipal. Mesmo assim, no imaginário do paciente que não encontra a solução de seus problemas nas unidades públicas, um novo hospital continua sendo a solução imaginada para curar todos os males e que vem desde as eleições de 2012 e após várias gestões municipais. O assunto sempre está na pauta do dia.

Nos últimos anos, aumentaram a oferta de UTI, sendo 10 para adultos no hospital municipal, 30 para adultos no hospital estadual e mais 10 leitos de UTI pediátrica também no hospital estadual. Em um hospital privado, a oferta é de 9 leitos. Logo, não há problema na oferta de leitos de UTI. Leitos cirúrgicos, o hospital municipal oferta 9 para atendimento SUS, 32 clinica geral, 19 obstétrico, 6 para psiquiatria e 9 para pediatria. Nesta área, o município está construindo um pronto atendimento infantil. Entre as mais de 200 leitos para atender a região, Hospital estadual oferta 70 leitos para cirurgia, sendo 28 geral, 2 neurológico, 25 para ortopedia, pediatria e traumatologia, 3 otorrino e 2 buco-maxilar. No atendimento clínico são mais 66 gerais, 20 para oncologia e 8 pediatria clinica.

Mas então, qual seria a razão para que desde as eleições de 2012 os governos municipais colocarem como prioridade em Itumbiara, a construção de um novo hospital municipal, que fez parte da pauta dos candidatos a prefeitos eleitos ou não. Foi até definido o nome e o local em gestões anteriores, mas a obra não começou e nem tem data para começar. Desde 2013, quando políticos de Itumbiara foram ao Ministério da Saúde reivindicar o novo hospital, recursos foram para orçamentos, projetos ficaram prontos, mas não se vislumbra quando vai ser construído e o que vai atender. Seria uma troca de local, com um prédio novo em substituição ao Hospital Municipal Modesto de Carvalho, que seria desativado, ou seria ampliado o atendimento de média e alta complexidade. Enquanto se discutia na área pública esta nova unidade hospitalar, a Unimed inaugurou seu hospital regional com 62 leitos, segundo dados do CNES, em funcionamento para atendimento privado e o Hospital São Marcos se tornou estadual com mais de 200 leitos para atendimento regional. Sem contar que chegaram duas faculdades de medicina, que atuam em parcerias com as unidades hospitalares públicas locais.

Então, por que segue no imaginário da população, que o principal problema do município é a falta de um novo hospital público, que seria a solução para todos os problemas de saúde. A resposta pode estar para o funcionamento de todo o sistema, principalmente na atenção primária. Na prática, como as 22 unidades de atendimento básico com equipes de saúde da família não resolvem os problemas de 80% dos usuários do SUS que procuram as unidades, os vão para a UPA e para o Hospital municipal em busca de solução.

Os problemas vão desde a falta de um médico de família presente em todas as unidades, passando pelos encaminhamentos que não encontra disponível todas as especialidades médicas a tempo adequado e suficiente, como a demora para atendimento de exames de diagnósticos, que podem até serem feitos a tempos, mas também não chegam no tempo adequado. AS Intervenções cirúrgicas eletivas avançaram em certas áreas, mas não em todas, como as mais complexas na área de ortopedia. Um novo hospital não vai resolver todos as problemas, se a atenção básica não funcional e se não disponibilizar no tempo adequado consultas especializadas e os exames para resolver os problemas. Uma nova unidade policlínica, poderia resolver os problemas de atendimento de consultas especializadas, se houver a oferta de um maior número de profissionais especializados para atender a demanda.

A questão não passa pela falta de recursos, que não param de crescer, conforme dados dos balanços anuais do município, principalmente na área de média e alta complexidade. Outro aspecto importante é que o setor emprega muitos profissionais, já que segundo o CNES atuam 516 no Hospital da Unimed, 856 no Hospital Estadual São Marcos e 664 no hospital municipal. Atuam no atendimento ambulatorial mais de 120 no CAIS e outros 120 na UPA. Nesta área, o município de Itumbiara tem um grande desafio, já que a forma de contratação por meio de credenciamento foi considerada irregular pelo TCM GO e a partir do próximo ano, as despesas com pessoal terceirizado impactarão o índice de gastos com a folha de pagamento de pessoal em relação a Lei de Responsabilidade Fiscal. Uma nova forma deverá ser utilizada. No Hospital Estadual, utiliza-se Organização Social.

Em relação a aplicação de recursos na saúde, mesmo com a chegada do Hospital Estadual em 2020, inicialmente para atender a situação de pandemia da COVID-19, o município ampliou as despesas, passando de R$ 78,4 milhões em 2020 para R$ 96,3 milhões em 2021. Nestes dois anos, foram aplicados mais de R$ 20 milhões especificamente com a covid-19. Já a partir de 2022, as despesas com saúde chegaram a R$ 104 milhões, sendo que R$ 51,2 milhões foram direcionados para manutenção de média e alta complexidade e R$ 13,8 milhões para a atenção primária. Em 2023, o balanço do município mostrou um total de R$ 123,1 milhões aplicados na saúde, sendo R$ 65,3 milhões para a média e alta complexidade e R$ 16,4 para manutenção da atenção primária. Neste ano, o orçamento previsto e de R$ 128,6 milhões, sendo R$ 56,3 para média e alta complexidade e R$ 17,5 milhões para atenção primária.

Pelo quadro, verifica-se uma evolução da área, seja com a aplicação de recursos, chegada do hospital estadual para atendimento regional, construção de prédios para atendimento ambulatorial e na área de pediatria, reformas em unidades de saúde, mas ainda não sentidas pelos usuários do SUS, principalmente em relação a resolutividade de seus problemas, quando procura uma unidade de saúde. Mesmo com um novo hospital municipal, se não ocorrer um atendimento satisfatório na atenção primária, no imaginário da população, continuará faltando alguma coisa na saúde. Pode ser que a solução do problema não esteja na construção de um prédio novo de um hospital e sim na solução do problema da maioria de pacientes que procuram o atendimento primário em uma unidade básica de saúde. Se resolver o problema no “postinho de saúde”, obter o exame, a consulta ou a cirurgia no tempo adequado, não se terá um paciente na recepção de unidade hospitalar.

Nilson Freire

Mestre em Ciências Jurídico-políticas e ex-secretário de saúde de Itumbiara


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